sexta-feira, 25 de novembro de 2011

8ª Mostra Internacional de Cinema Negro 2011


Em 2011, a 8ª mostra internacional irá homenagear o ator, compositor e cantor brasileiro Sebastião Bernardes de Souza Prata (Grande Otelo), um dos ícones artísticos que o mundo conheceu.  O talentoso cantor Sérgio Ricardo que desenvolveu uma carreira brilhante receberá a estatueta do evento, um reconhecimento para quem contribuiu na divulgação da imagem do negro e de sua cultura.

Para o professor Celso Prudente (foto), o marco inicial do Cinema Negro no Brasil foi o filme Barravento, de Glauber Rocha, dentro do movimento cinemanovista, que mudou a participação dos negros nos filmes nacionais: de coadjuvantes a protagonistas. 


Programação:

Os 7 filmes selecionados serão exibidos em praça pública, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, como parte do tradicional show  de 20 de Novembro, promovido pela Comissão de Gênero e Etnia da Secretaria de Estado de Cultura de São Paulo.

Jesus Saves / Jesus Salva
Duração: 8 minutos
Diretor: Fabiano de Souza Ramos
País: Reino Unido, Brasil, Suíça, China, Índia e Arábia Saudita.
Sinopse: Um encontro inesperado que muda a perspectiva do mundo e coloca a comunidade mundial em colapso. O que aconteceria se isto fosse um evento verdadeiro? O que você faria? (Este filme concorreu no Festival de Cannes 2011 e no Festival de Kilburn em Londres 2011).

Drive In- Dreams – Estacionamento dos Sonhos
Duração: 12 minutos
Diretor: Anna Bowmam
País: Reino Unido
Sinopse: Documentário sobre um estacionamento construído em uma zona de residencial no norte de Londres, que é utilizado também por escritórios comerciais e residências. Mostra o drama dos moradores e trabalhadores de diferentes nacionalidades ao descobrirem que o prédio será demolido.

Continuous – Ana Maria Mioino
Duração: 9 minutos
Diretor: Anna Bowmam
Pais: Reino Unido
Sinopse: Documentário sobre a renomada  artista plástica brasileira Ana Maria Miolino e sua exibição de artes em Londres no Camden Arts Center.  Ana Maria Miolino nesta exibição mostra que o trabalho pode ter uma identificação com o olhar do outro entre um espaço e continuidade.

Banna Splat – A Ganancia
Duração: 9 minutos
Diretor: Claire Creswell
País: Reino Unido
Sinopse: Barry um executivo de produção decide vender um novo produto, conhecido como Banana Splat, porém para obter mais lucros ele inseri nos ingredientes produtos extremamente gordurosos e abusa da mão de obra barata das plantações de banana do Caribe. Com isto, ele leva a uma cadeia de efeitos nocivos a sociedade mundial.

Zelão
Duração: 4 minutos
Diretor: Sergio Ricardo
País: Brasil
Sinopse: A música Zelão, que rompe com o formalismo da bossa nova e parte para tratar de questões sociais, é o fio condutor deste filme de animação. Contando a vida na favela, Sérgio Ricardo, famoso por ligar música e cinema, mostra seu talento de animador.

Uma Estrela no Quintal
Duração: 7 minutos
Diretor: Danielle Divardin
País: Brasil
Sinopse: Uma menina em seu quarto descobre o universo da imaginação e vive a alegria de ser criança. (Animação infantil).

Mojubá - Origens
Duração: 20 minutos
Diretor: Antônio Pompêo
País: Brasil
Sinopse: Mojubá é uma saudação em Iorubá e o nome da série de documentários que mostra a influência da religiosidade de matriz africana na literatura, na música, na culinária, no dia-a-dia dos brasileiros. Por meio dos programas, mergulhamos na história e na sabedoria de nossos ancestrais africanos.


Saiba mais em: ABC Dinda

sábado, 24 de setembro de 2011

A margem da imagem - entrevista com Renato Candido, diretor de Jennifer

Primeiro filme do cineasta Renato Cândido de Lima, o curta-metragem Jennifer discute a maneira de como os negros e mestiços se enxergam pelo prisma de uma sociedade branca e preconceituosa e o que é possível para eles na rígida mobilidade social brasileira.                                                     
Por Amilton Pinheiro.        

O diretor e estudante de pós-graduação em Cinema pela Escola de Comunicação e Arte (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), Renato Cândido de Lima nasceu e viveu durante anos no bairro Nova Cachoeirinha, na periferia São Paulo. Filho de um operário eletricista aposentado e mãe pintora, ele viu de perto as transformações pelas quais o bairro passou. "O lugar mudou muito e hoje é uma periferia consolidada", diz. E foi na Cachoeirinha que se transmutava que o diretor teve os primeiros insights da história que viria a ser o curtametragem Jennifer (com duração de quase 30 minutos, o dobro de tempo de um curta normal).

O argumento para Jennifer nasceu de duas situações e dois tempos distintos: uma das vizinhas de Renato, cuja mãe era cabeleireira, vivia às turras com o seu cabelo crespo. "Era interessante como o lance do cabelo dela dizia muito de um conceito de beleza ligada aos brancos, como norma mesmo." A outra inspiração surgiu anos depois durante a graduação em Cinema na ECA/USP do jovem diretor. Renato foi fazer um curso de interpretação teatral e conheceu a jovem aspirante a atriz Juliana Valente - mestiça que tinha dificuldade de relacionamento com alguns alunos, de maioria branca. "Eu ficava observando Juliana e vendo como os outros a enxergavam. E foi por meio dessas duas situações que escrevi o roteiro de Jennifer, pensando na Juliana para fazer o papel dessa garota insegura com a sua aparência e com o mundo que vai descortinando a sua volta, como a necessidade do primeiro emprego", lembra Renato.

Roteiro embasado
Com uma boa formação acadêmica, o primeiro filme de Renato Cândido é bastante fundamentado em suas leituras no curso de graduação de cinema. Uma delas foi do sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), que foi professor da Universidade de São Paulo e um dos intelectuais brasileiros mais respeitados. "Florestan Fernandes coloca que a condição para ser humano é uma condição branca. Isso é colocado na introdução do livro Negro no Mundo dos Brancos. É interessante como a gente - negro e mestiço - negocia ser branco e ser negro. A gente quer ser branco para ser possível em alguns lugares ou a gente negocia ser negro numa chave do exótico para ser possível também", argumenta Renato. Outra fonte para o roteiro de Jennifer veio do psiquiatra e escritor da Martinica, Frantz Fanon (1925-1961), um dos importantes estudiosos da sociedade diáspora e pós-coloniais, que escreveu dois livros seminais: Os Condenados da Terra e Pele Negra, Máscaras Brancas, originalmente a sua tese de doutorado, verdadeiros manifestos anticolonialistas. Frantz Fanon participou da Frente de Libertação Nacional pela independência da Argélia e foi um dos principais críticos da colonização e descolonização mental a que estavam sujeitos as populações de países subdesenvolvidos.

Uma discussão da mestiçagem
O curta-metragem gira em torno da história de uma garota de 17 anos - interpretada pela atriz Juliana Valente, em seu primeiro trabalho. Jennifer mora no bairro Nova Cachoeirinha, tem mãe cabeleireira e vive conflitos com a sua aparência (principalmente em relação ao seu cabelo crespo) e com as inseguranças típicas da adolescência. Sua melhor amiga é Tamires (Gabriela Balmant), jovem bem mais resolvida e segura. O curta-metragem, mesmo com seus quase 30 minutos de duração, não consegue desenvolver bem todas as subtramas da história, como a primeira paquera de Jennifer, a busca do primeiro emprego e, principalmente, a descoberta da história dos seus descendentes, o que a faz se aceitar melhor. Mas, por ser o primeiro trabalho de Renato Cândido, os méritos do filme são muitos: roteiro bem estruturado, câmera que enquadra bem as cenas e, o mais importante, uma eficiente direção de atores (um dos pontos mais problemáticos dos filmes de curta-metragem).

Renato soube escolher muito bem seus atores. Além de Juliana Valente e Gabriela Balmant, destaque para os atores Sidney Santiago (Os Doze Trabalhos) e André Luís Patrício (Amor em Quatro Atos, da Globo), que fazem pequenas participações. André faz o gerente do supermercado onde Jennifer vai procurar seu primeiro emprego. "Fiz tantos bandidos na minha carreira e fazer agora um personagem fora da cena marginal, apesar de uma participação pequena, foi desafiante. Minha preocupação era que tom iria deixar para o personagem, que não era um ´mano`. Ele tem muitas nuances e eu queria imprimir isso na minha composição, não sei se consegui", relata o ator.
Para o diretor Renato Cândido a satisfação com este primeiro trabalho é enorme, principalmente com a recepção que Jennifer tem nos lugares em que é exibido. "Apesar da insegurança que um primeiro filme traz para qualquer diretor, me senti muito à vontade durante as filmagens. Espero que isso tenha ficado impresso no filme."
Cenas do curta-metragem

Pai negro, mãe branca
Juliana Valente, protagonista do curtametragem, não é uma negra de pele retinta - tem pai negro e mãe branca, e muita similaridade com a história da Jennifer. Moradora do Jaguaré, na capital paulista, e estudante de Artes Cênicas na Universidade de São Paulo, a atriz confessa que se sentiu muito à vontade durante as filmagens. "A história tem muita similaridade com a minha história e a de muitas adolescentes que moram na periferia de São Paulo. Eu já tive dificuldade de aceitar meu cabelo crespo e tentei alisá-lo, ter um nariz mais fino e todos esses conflitos que nós, garotas mestiças, estamos sujeitas." Mas, por que não uma garota negra (de fato) para o papel de Jennifer? O questionamento foi feito ao diretor por alguns amigos. Renato se defende com o seguinte argumento: "Acho pernicioso trazer uma menina de pele mais preta trabalhando com a questão de identidade. A mestiçagem não é arrefecimento das tensões raciais, pelo contrário. E é isso que eu quis colocar em Jennifer. Ela, a personagem, é filha dessa mestiçagem. Geralmente o mestiço tenta negociar a sua aceitação numa sociedade branca."

Links relacionados:

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Mumblecore - a estética do faça você mesmo

Um grande panorama do novo cinema independente americano pode ser conferido na mostra “Mumblecore, a Estética do Faça Você Mesmo”. Mumblecore é um movimento de cinema independente que surgiu em 2002 durante uma conversa entre amigos, no intervalo das exibições de um festival de cinema independente. Joe Swanberg, Aaron Katz, Andrew Bujalski, Mark e Jay Duplass foram os primeiros cineastas a ganharem visibilidade, dentro e fora dos Estados Unidos, com seus primeiros filmes com o selo Mumblecore.



O movimento é caracterizado por seu baixo orçamento, roteiros e cenas improvisadas, atores não profissionais e temas geralmente em torno de relacionamentos amorosos entre jovens.

Baseados em movimentos anteriores, como o D.I.Y. (Do It Yourself), Dogma 95, cinema digital e o movimento independente americano, tendo John Cassavetes e, posteriormente, Richard Linklater como grandes influências, o Mumblecore chamou a atenção para uma discussão maior: o barateamento da produção cinematográfica com a chegada da tecnologia digital e como isso se reflete tanto no mercado cinematográfico como no modo de se fazer cinema.

Quilombocine recomenda:

REMÉDIO PARA A MELANCOLIA (Medicine for Melancholy, EUA, 2008, 88 min, digital). Dir.: Barry Jenkins. Com Wyatt Cenac, Tracey Heggins, Elizabeth Acker e outros. A cidade de São Francisco, EUA, é o cenário para esta história de amor entre dois jovens afro-americanos que convivem com o desafio de serem parte de uma minoria em uma cidade hostil. Um dos raros filmes Mumblecore com personagens não-brancos.


CLIMA FRIO (Cold Weather, EUA, 2010, 97 min, digital). Dir.: Aaron Katz. Com Cris Lankenau, Trieste Kelly Dunn, Raúl Castillo e outros. Doug acabou de voltar para sua cidade natal, Portland, em Oregon (EUA), para morar com a irmã. Quando sua ex-namorada aparece inesperadamente na cidade, sumindo logo em seguida, Doug, Gail e Carlos, o novo amigo dos dois, assumem papéis de detetives, ou, como eles mesmo afirmam, “Sherlock Holmes” da vida real. Para além do toque de mistério, o filme é uma bela e espontânea história de amizade e camaradagem familiar.


Pesquisa e postagem: Oubí Inaê Kibuko para Quilombocine.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

29/04/2011 - Palestra com Samba Gadjigo sobre Ousmane Sembene na PUC-SP

CONVITE

O Centro de Estudos Culturais Africanos e da Diáspora-CECAFRO/PUC-SP, dando continuidade às suas atividades neste semestre, tem o prazer de convidar para a palestra  “África na perspectiva do cineasta Ousmane Sembène”, com o escritor, crítico,documentarista e professor SAMBA GADJIGO (Senegal).

Nesta sexta-feira, 29/04, na PUC-SP
Sala 500, Prédio Novo.
Das 19:00 às 21:30

Conheça um pouco mais o Prof. Dr. SAMBA GADJIGO
Crítico, escritor, documentarista e professor de Francês e Literatura Africana na Universidade Mount Holyoke, em Massachusetts/EUA, o senegalês Samba Gadjigo é titular em Letras Modernas pela Universidade de Dakar (Senegal) e Ph.D pela Universidade de Illinois (EUA).

 Ao longo dos últimos anos tem se dedicado à pesquisa e divulgação da biografia e obra do cineasta senegalês Sembene Ousmane, considerado o pai do Cinema Africano. Gadjigo é autor de obras referenciais para a compreensão da estética de Sembene, a exemplo dos livros Ousmane Sembene, une conscience africaine (autor, 2007); Ousmane Sembene: Dialogues with critics and writers (co-editor, 1993), além de documentários sobre a filmografia do cineasta como The Making of Moolaade (2005).

Na útil expressão de Gadjigo, Sembene Ousmane é um “notável desconhecido”, pois apesar da sua importância e pioneirismo para o Cinema Africano muitos aspectos de sua vida e obra ainda são desconhecidos, sobretudo no Brasil e na América Latina. É lícito dizer que reside aí o interesse do estudioso em divulgar as obras de Sembene pelo mundo afora, uma vez que isso possibilita um diálogo mais estreito entre a África e as demais nações.

Nesse sentido, a ideia de promover tal atividade na PUC/SP é uma forma de ampliar estes debates que, até então, têm se restringido a algumas poucas instituições e espaços acadêmicos ou universitários.

Clique na imagem abaixo e veja um video de Samba Gadjigo sobre Ousmane Sembene: 

Se não conseguir visualizar clique aqui: Samba Gadjigo Honours Ousmane Sembene

quarta-feira, 27 de abril de 2011

CUT realiza 1º de Maio Brasil-África

A CUT-SP vai comemorar o 1º de Maio – Dia do Trabalho – deste ano com um tema inédito: as relações Brasil e África. A data será comemorada pela CUT/SP com várias atividades que serão realizadas a partir da última semana de abril e incluem um seminário internacional, oficinas culturais, exposição de livros, obras de arte, exibição de filmes, apresentação de manifestações culturais afro-brasileiras, gastronomia e ato inter-religioso privilegiando as religiões de matriz africana.

Esses eventos culminarão com uma grande manifestação na data de 1º de Maio, que será realizada no Parque da Independência, no Ipiranga, em São Paulo.
 “A proposta é ir além da tradicional confraternização entre os trabalhadores que, evidentemente, é importante. Mas dar um primeiro passo para a reflexão sobre nossa condição de país afro-descendente. Somamos, hoje, mais de 90 milhões de afrodescendentes, segundo dados do IBGE, e essa consciência ainda não está presente na totalidade de nossa população. Além disso, os países africanos, que estão na raiz de nossa origem, são pouco conhecidos em sua dimensão histórica, institucional, econômica, social e cultural”, afirma  Adi dos Santos Lima, presidente da CUT/SP.
Neste 1º de Maio de 2011, a CUT quer chamar a atenção e mostrar um pouco da riqueza que constitui a matriz africana no Brasil e a importância das relações com os trabalhadores e a população dos países desse continente.
Os países que participarão das comemorações do 1º de Maio são: Togo, Zimbábue, Nigéria, Senegal, Cabo Verde, África do Sul, Gana, Benin, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, e Brasil. As nações africanas foram convidadas obedecendo ao critério de relacionamento entre as centrais sindicais e a CUT e também ao fato de algumas integrarem a comunidade de língua portuguesa.
É importante lembrar, ainda, que 2011 foi estabelecido pela Assembleia das Nações Unidas como o “Ano Internacional do Afrodescendente”, com o objetivo de “homenagear os povos de origem africana em reconhecimento à necessidade de se combater o racismo e as desigualdades econômicas e sociais. É também um reconhecimento pela enorme contribuição cultural e econômica dos descendentes de africanos em todo mundo”, diz o documento da ONU que oficializou  o tema.
O Brasil vem registrando muitos avanços na superação das desigualdades étnico-raciais, em especial em relação à população afrodescendente. Um passo importante foi a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial no ano passado. Mas, ainda há um caminho longo a percorrer. Um exemplo são as estatísticas que colocam o jovem negro entre as principais vítimas da violência no país. De cada três pessoas assassinadas no Brasil, duas são negras, revela o Mapa da Violência 2011, elaborado pelo Instituto Sangari, com base nos dados do Ministério da Saúde.
A Lei 10.639/2003, que obriga o ensino da história geral da África e sua contribuição para a cultura brasileira nas escolas públicas e particulares do ensino médio e fundamental, ainda  falta ser implementada, seja por falta de informação, interesse ou preconceito.
“Ao mesmo tempo, os países africanos tem sede de conhecimento sobre o Brasil e vêem com muito interesse o estreitamento de relações em vários campos de atividade. O Brasil tem hoje mais de 30 embaixadas e representações nos países africanos. Muitos desses países que enfrentaram situações de conflitos em passado recente as superaram, a exemplo do apartheid na África do Sul e guerras coloniais e  hoje aspiram ao desenvolvimento e a uma política voltada para o bem-estar das populações, passando pela organização dos trabalhadores e trabalhadoras”, observa Artur Henrique, presidente nacional da CUT.
“Os caminhos para a África são amplos e esses povos aspiram a uma cooperação solidária com nosso país e nossos trabalhadores. E é importante lembrar que a história das relações entre o Brasil e a África, embora tenha sido marcada em seu início pela diáspora e o tráfico de escravos, tem uma ancestralidade que ainda pouco conhecemos e é referenciada hoje por relações dinâmicas, principalmente econômicas e culturais que queremos estreitar, em especial com os trabalhadores desses países”, completa Adi.




Fonte e programação completa: Hotsite 1º de Maio CUT Brasil-África 2011


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Curso: Uma historia do cinema na Cinemateca Brasileira

CURSO
UMA HISTÓRIA DO CINEMA NA CINEMATECA BRASILEIRA
26 de abril a 14 de junho de 2011
CURSO LIVRE em parceria com o Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Aulas às terças-feiras, às 19h00.
As inscrições são GRATUITAS e devem ser feitas pessoalmente na bilheteria da Sala Cinemateca Petrobras a partir do dia 19 de abril, de terça a domingo, das 15h00 às 21h00. Para realizar a inscrição é preciso ter em mãos os seguintes documentos: RG (obrigatório), CPF, passaporte, Título de Eleitor e Documento Militar. São 100 vagas disponíveis, preenchidas de acordo com a ordem de inscrição.
O novo módulo é dedicado ao cinema brasileiro e, pela primeira vez, as aulas serão ministradas por diversos professores da ECA/USP – Carlos Augusto Calil, Eduardo Morettin, Cristian Borges, Henri Gervaiseau, Rosana Soares e Esther Hamburger, sob a coordenação de Rubens Machado Jr. – aos quais coube também a seleção de filmes para o curso.
RUBENS MACHADO JR., coordenador do curso, é Livre Docente em Teoria e História do Cinema na ECA-USP. Como pesquisador, estagiou na Universidade de Paris III (1991-1997) e fez Pós-Doutorado no IA-Unicamp (1998-1999). Integra a editoria de várias revistas, como Cine-Olho (RJ-SP, 1975-1980), Infos Brésil (Paris, 1992-2007), Praga (SP, 1997-2000), Sinopse (SP, 1999-2006) e Significação (SP, 2006-). Publicou artigos em periódicos brasileiros como Novos Estudos Cebrap, Alceu, Cinemais, Educação & Sociedade, Pós – FAU-USP, Trópico, Folha de S. Paulo (Mais!, Ilustrada, Jornal de Resenhas e Folhetim); na Itália, Oèdipus e Close-Up: Storie della visione; na França, Cahiers du cinéma, Episodic e L'Armateur. É vice-presidente do Conselho de Orientação Artística do MIS-SP. Atualmente pesquisa a história do cinema experimental e de vanguarda.
Módulo 27
CLÁSSICO, ANTICLÁSSICO E QUASE CLÁSSICO: ASPIRAÇÕES, INVENÇÕES E TRADIÇÕES DO CINEMA BRASILEIRO
“Na universalidade tão admirada das obras clássicas
perpetua-se a universalidade funesta dos mitos,
a inflexibilidade do sortilégio, como norma e configuração.”
T. W. Adorno, Teoria estética
Num país jovial e meio barroco como o nosso, o termo clássico vive nos dando cócegas. No entanto, acaba nos atraindo a necessária positividade que ele nos promete. Iremos precisar dessa positividade para ordenar, fazer progredir, e afinal apreciar a nossa (nem sempre) precária realidade. Não nos esqueceremos de procurar o que na bandeira nacional se propõe (e continuaria faltando), ou seja: Como chegar à Ordem e ao Progresso? Que significado podem ter? Mais ainda: Como usufruir, o que fazer do que já conquistamos?
O cinema brasileiro não escapa dessa realidade maior e dependerá também dos olhares contemporâneos que pretendem sempre reordená-lo na história. A sorte dos filmes nacionais considerados clássicos vive assediada por essa “providencial” instabilidade. Sintoma disso é a impressão de que este ou aquele clássico mais tradicional o seria de fato mais por convenção do que por convicção.
Alguém lembrará a boutade abrupta de Nelson Rodrigues, “Toda unanimidade é burra”. Vamos combinar que estamos de acordo se o unânime em questão apoiar-se apenas no chamado senso comum. Este último deve ser atacado continuamente pelo exame atencioso dos processos de legitimação e dos critérios críticos exercitados; o que não é fácil. A nenhum filme brasileiro falta o vestígio da afirmação, na medida em que qualquer um, por sua simples existência, sobrepuja o isolamento e a miséria do status quo mais encontradiço. E se há realização classicista em terreno meio arcaico, é certo que pesou o gesto ancestral de afirmação sobre a Natureza, que a atração circense tão bem materializava, muito antes do cinema. As ideias vão mudando e os modos de pesquisar, muitos momentos relegados ou ignorados vão aflorar. Muito se pode interrogar hoje em dia das velhas obras cinematográficas em virtude de novas concepções de mundo deflagradas. Os verdadeiros clássicos vão resistindo ao tempo, e mesmo se renovando, arriscando ampliar o seu espectro de sentidos. A especulação de cada novo momento é necessária para testar os critérios assentados e tradicionais. As exigências práticas do presente repõem com novos moldes uma educação dos sentidos refeita, que nos faz ver com novos olhos, percepção diferenciada.
Por um lado já se tornaram senso comum, mesmo para quem não gosta de enxergar o filme brasileiro pelo ângulo do autor, nomes como Nelson, Glauber, Joaquim Pedro, Leon, Anselmo, Cacá... Ou sobrenomes como Medina, Mauro, Peixoto, Manga, Khouri, Person, Candeias, Saraceni, Sganzerla, Bressane, Babenco, Mojica... De outro lado há os filmes. Fora de sua singular análise crítica resta, e floresce, a mitologia do cinema; assim como na historiografia dos grandes criadores acabaria imperando o relato martirológico. Do modo como se dá o consenso nestes casos de pura reverberação da indústria cultural, convém destacar o fato de que para além do chamado cinema clássico e de todo o classicismo aparentado à história da arte, tudo pode virar “clássico”. Onde a indústria não consegue erigir seus modelos de comercialização mediante a interação sistemática do consumo, como falar de cinema clássico, senão como mimese estilística trazida dos maiores centros fabricadores? Entre o conceito mais exigente e a vulgarização indiscriminada ou prepotente surge a crítica tentando mediar o assunto.
Claro que este não é um problema exclusivo do Brasil, ou da periferia. Mas a diferença existe – e persiste na história, tem estado aí para fazer contraponto, negar, glosar ou contrastar com as mais fortes potências emissoras. Em toda parte o clássico tem convivido com o pseudoclássico, o quase clássico e o anticlássico. Como já disse G. C. Argan, tentando dar conta da eclosão maneirista na história da arte, o termo anticlássico, naquilo que parece designar, paradoxalmente, torna mais claro num átimo aquilo que sugere configurar, e mais denso de conteúdos que o seu contrário. Glauber Rocha teria intuído o problema não só ao escrever a Estética da Fome como ao chamar a cultura estadunidense de “neoclássica”; isto, claro, sem falar da sua simpatia pelo barroco.
Cada diferente prática do cinema, se bem desenvolvida, vai sugerir a sua própria configuração clássica. Porém, falar em clássicos de cada gênero cinematográfico de narrativa só é coisa cristalina e claramente autorizada quando a indústria os institui. E o caráter intermitente ou precário da indústria do cinema no Brasil arremessou a possibilidade de qualquer tipo de clássico para epicentros distintos dos cânones de gênero convencionais do cinema. Nestes termos, a atual vaga tecnológica de amadorismo fértil e promissor não é exatamente uma novidade desde que se começou a filmar por aqui. Estudiosos do país, como Paulo Prado ou Mário Pedrosa, voltaram a apontar uma renitente inclinação romântica que nos custa muito endireitar. Seguindo o vaticínio de Paul Valéry, de que toda a obra romântica já é clássica apenas mediante o seu êxito, resta-nos compreender o que de melhor aqui se construiu. Sucessos de crítica ou de público, êxitos frustrados por desvendar, êxitos do futuro, ainda incompreendidos?
Rubens Machado Jr.
Largo Senador Raul Cardoso, 207
próximo ao Metrô Vila Mariana
Outras informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
ENTRADA FRANCA
Clique aqui e confira a programação, sinopse dos filmes e bibliografia do curso

Baile do Carmo abre Etnodoc na TV Brasil

 








O documentário, que abre a programação do Etnodoc II, no dia 21 de abril às 0h (de 5ª para 6ª feira), retrata um peculiar baile de gala organizado há mais de 120 anos pela comunidade afro-descendente de Araraquara – há 80 anos ele ocorre no mês de julho embalado por uma orquestra. Conhecido como a mais sólida manifestação da cultura negra da cidade, o Baile do Carmo surgiu em um cenário de segregação racial e hoje é tido como uma celebração pela identidade e resistência da população afro-descendente do interior de São Paulo. Com 26 minutos de duração, Baile do Carmo foge das tradicionais formas de narrar documentários sobre festejos históricos e constrói sua narrativa a partir das expectativas e preparativos de seus personagens.

Fonte: TV Brasil 
Divulgação solidária: Quilombocine


quarta-feira, 13 de abril de 2011

Dia 16/4 Cine Afro Sembene Apresenta: Rastros, Pegadas de Mulher – Direção Katy Léna Ndiaye

Sinopse: As pinturas murais das mulheres kassenas de Burkina Faso, perto da fronteira com Gana, são famosas pela beleza do traçado e pela harmonia de cor. Interessada no assunto, Katy Léna Ndiaye escolhe comparar tradição e modernidade, através do retrato de três anciãs e da “neta” que elas iniciam nas técnicas ancestrais. Ela realiza um filme com maestria estética, verdadeiro retrato de uma comunidade artística, por onde se discute a transmissão de ensinamentos, a educação e a memória numa África em mutação.

Sobre a diretora: Katy Léna Ndiaye nasceu no Senegal em 1968, mas chegou à França, onde seus pais se instalaram, muito jovem. Há dez anos trabalha na Bélgica, em Bruxelas, onde exerce a profissão de jornalista. “Rastros, pegadas de mulher” é seu primeiro filme.


Local: CENTRO CINE CLUBISTA DE SÃO PAULO – CECISP

Horário: 19 horas – Entrada Franca

Rua Augusta, 1239, conj. 13 e 14 – São Paulo – Próximo a Avenida Paulista – Metrô Consolação

Informações: (011)3214-3906

www.centrocineclubista.blogspot.com

www.cineafrosembene.blogspot.com

Realização: Forum África

Colaboração: Casa das Áfricas Cabeças Falantes Fórum Africa-Blog Quilombocine

A morte de Benê Silva


A Câmara Municipal de Embu homenageou o ator Benê Silva, pelo seu falecimento no dia 21 de fevereiro naquela cidade, em reconhecimento ao ator que idealizou um cineclube em Embu, onde fixou residência e passou os últimos momentos de vida. Durante a homenagem, um pequeno filme foi projetado, no plenário

O ator, dramaturgo e cineclubista mineiro Benê Silva morreu de complicações decorrentes de um câncer na garganta, aos 69 anos.

Benê Silva chegou a Embu há alguns, passando a integrar a vida cultural da cidade, ligando-se e militando no movimento por políticas públicas culturais.

Muito ativo, criou o Cineclube de Embu das Artes, levando a sétima arte a vários bairros da cidade. No ano passado, sua entidade foi uma das escolhidas por edital para abrigar um “Ponto de Cultura”, com apoio da prefeitura e verba do governo federal, em reconhecimento a seu trabalho.

Atuação marcante
Nascido em 16 de agosto de 1942 em Uberaba (MG), Benedito Vicente da Silva foi ator, dramaturgo e cineclubista, estudou artes cênicas na EAD (Escola de Arte Dramática de São Paulo), fez parte do TEN (Teatro Experimental do Negro) na década de 1950, no Rio de Janeiro, com a atriz Ruth de Souza.

Em 1969, o dramaturgo Plínio Marcos citou Benê como um ator negro que poderia ter sido escolhido para o papel de “Pai Tomás” em uma novela da Globo, "Cabana do Pai Tomás" (1969-1970). A emissora carioca preferiu, porém, escolher um ator branco (Sérgio Cardoso - 1925-1972) e "tingir o panaca de preto", nas palavras de Plínio, em vez de colocar um negro no papel principal.

Dizia Plínio Marcos, no jornal Última Hora (RJ): “O Sérgio Cardoso é o cara que vai se prestar ao triste papel de se pintar de preto pra fazer o ‘Tomás’... enquanto Samuel, Dalmo Ferreira, Benê Silva (formado pela Escola de Arte Dramática), Milton Gonçalves, Antônio Pitanga, Carlão Caxambu e tantos outros atores negros, de valor provado, ficam pegando as rebarbas das quebradas da vida”.

A partir dos anos 1970, Benê participou como ator em diversas produções cinematográficas, no Brasil e no exterior. No Brasil, por exemplo, participou do filme “A Filha do Padre” (1975), dirigido por Tony Vieira.

Foi um dos grandes destaques da primeira montagem brasileira da ópera-rock “Hair”, entre 1969 e 1971, de estrondoso sucesso, em cujo elenco estavam também Sônia Braga, Aracy Balabanian, Neuza Borges, Armando Bógus (1930-1993), Ariclê Perez (1943-2006), entre outros atores.

“Hair” se revelou um manifesto teatral e musical em repúdio à guerra, em geral, e à participação dos Estados Unidos na guerra do Vietnã (1959-1975), em específico.

Nos últimos anos, Benê radicou-se no Embu, criando o “Cineclube de Embu das Artes”, oficializado em 10 de setembro de 2006, agitando a cena cultural, participando de todas as iniciativas, debates, fóruns de discussões relativos à promoção cultural na cidade.

Na cerimônia de inauguração das atividades do Cine Clube Embu das Artes, foi exibido o filme “Vida de Artista”, produção e direção do cineasta João Batista de Andrade, então Secretário Estadual de Cultura, que fez questão de participar pessoalmente do evento, a convite de Benê.


Benê Silva abre uma lacuna no movimento cultural de Embu, deixando dezenas de amigos e admiradores de seu talento, espírito rebelde, de luta e de vida. Segundo seus amigos, quando perguntado sobre o que ele pensava sobre si mesmo e sua obra, dizia apenas: “Eu, embora seja negro, não sou um negro do movimento. Eu sou um negro em movimento”.

Benê Silva foi um dos atores da famosa novela Beto Rockfeler da TV Tupi e seu último trabalho de importância foi o filme “Os Desafinados" em 2008,
onde interpreta o personagem - Geraldo(no presente) - que é dividido com o cantor/ator Jair Oliveira(Geraldo no passado). Fazem parte do elenco, Rodrigo Santoro, Selton Mello, Jair Oliveira, Claudia Abreu, Alessandra Negrini, Angelo Paes Leme, André Moraes, Vanessa Gerbelli, Antonio Pedro Borges, Arthur Kohl, Genésio Barros e Ailton Graça.





Fonte (Texto: Márcio Amêndola / Foto-Montagem com fotos de autoria de Charles Brait)


domingo, 3 de abril de 2011

XI Conferencia Internacional do Documentario na Cinemateca

Documentário é um gênero cinematográfico que se caracteriza pelo compromisso com a exploração da realidade. Mas dessa afirmação não se deve deduzir que ele represente a realidade «tal como ela é». O documentário, assim como o cinema de ficção, é uma representação parcial e subjectiva da realidade.
O filme documentário foi pela primeira vez teorizado por Dziga Vertov (1896-1954), que desenvolve o conceito de «cinema-verdade» (kino-pravda), defendendo a ideia da fiabilidade do olho da câmara, a seu ver mais fiel à realidade que o olho humano - ideia ilustrada pelo filme que realizou Cine-Olho (1924) -, visto ser uma reprodução mecânica do visível (Ver: cinema directo).
O termo documentário é aceito em 1879 pelo dicionário francês Littré como adjetivo referente a algo «que tem carácter de documento». Atualmente, há uma série de estudos cujos esforços se dirigem no sentido de mostar que há uma indefinição de fronteiras entre documentário e cinema de ficção, definindo um género híbrido. Surge no início do século o termo docuficção. A etnoficção é umas das práticas nobres deste gênero.

Links relacionados:
Divulgação solidária: Quilombocine - Cabeças Falantes

quarta-feira, 30 de março de 2011

Lançamento: Jennifer no CCJ Ruth Cardoso

JENNIFER: (Brasil, 2011, 29 min, DVD). Direção: Renato Candido. Produção: Odun Formação. Com: Juliana Valente, Gabriela Balmant, Ian Felipe e Victor Sparapane. Jennifer, uma garota de 17 anos, moradora da Vila Nova Cachoeirinha, manipula suas fotos no Photoshop para ficar mais clara. Ao se tornar adulta, ela vive dilemas relativos a sua identidade numa sociedade que sempre nega significados de negritude. Projeto contemplado pelo VAI, PROAC e Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da USP.



Dia 10/04, domingo, 16h.

100 lugares. Distribuição de ingressos 1 hora antes da sessão, na recepção do CCJ.

Pesquisa: Oubí Inaê Kibuko
Divulgação solidária: Quilombocine

terça-feira, 22 de março de 2011

Semana de Cinema e Cultura Africana no CEU Lajeado


O Centro Educacional Unificado (CEU) Lajeado, na zona leste de São Paulo, irá realizar a Semana de Cinema e Cultura Africana, em homenagem ao Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes, comemorado em 2011.

    A semana irá contar com a apresentação de filmes do cineasta Sol de Carvalho, um moçambicano que já fez diversos longas e curtas-metragens que abordam a realidade africana, relatando problemas enfrentados por alguns países.

    As apresentações terão início na segunda-feira (21), quando se comemora o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Descriminação Racial, e serão encerradas no dia 25 de março. Os filmes serão exibidos todos os dias, às 19h30, no Teatro CEU Lajeado, e após as sessões serão discutidos os assuntos de cada película, como racismo, exclusão social, educação e corrupção.

    Confira abaixo a lista de filmes exibidos:

    - Rodas de rua

    - Quando o mar bate na rocha

    - Garras e dentes

    - Pregos na cabeça

    - Muhipiti Alima

    - Maria a empregada

    - O jardim do outro homem

    O CEU Lajeado fica na rua Manuel da Mota Coutinho, 293 – Lajeado. Para assistir aos filmes, agende a visita no número 3397 6954.

Entrevista com Sol de Carvalho

 por João Teixeira

Num país onde um bilhete de cinema pode custar 10% do salário de um trabalhador, Sol de Carvalho realizou “O Jardim do Outro Homem”, a primeira longa-metragem do cinema Moçambicano em 20 anos. Conta a história de Sofia, uma jovem que se esforça por perseguir o sonho de estudar Medicina, tendo para isso de enfrentar a corrupção e a chantagem de um professor que a obriga a uma relação sexual não-protegida em troca de um resultado positivo num exame. Não sendo necessariamente um filme sobre a SIDA/HIV, “O Jardim do Outro Homem” pretende reflectir sobre a relação entre a cultura e o subdesenvolvimento, nos seus vários aspectos.
Sol de Carvalho nasceu na Beira e persiste em viver e trabalhar em Maputo, sendo este o 3º filme de ficção do cineasta, que lançou igualmente uma curta-metragem intitulada “A Janela” e “Terra Sonâmbula”, este último baseado no romance do escritor moçambicano Mia Couto.
Em entrevista exclusiva a “CulturaPALOPsPortugal.comSol de Carvalho reflecte sobre os vários aspectos da cultura e a sua contribuição para o desenvolvimento, bem como a estética que caracteriza o cinema moçambicano:
“Vejo a cultura de forma bastante diferente que outros, nomeadamente o poder. Por exemplo, estou a trabalhar agora num projecto que envolve o cinema relacionado com a SIDA (AIDS). Temos já um grau de infecção nacional bastante grande, de cerca de 20%, e o problema desse combate, onde eu próprio, como cineasta, também estou envolvido, é nada mais nada menos que o problema da cultura. Tem a ver com a maneira como as pessoas se comportam nos relacionamentos sexuais, familiares, etc. Por este exemplo, pretendo explicar a razão porque entendo a cultura não como um “departamento” do desenvolvimento, mas seria a própria concepção do desenvolvimento. A cultura seria aquilo que poderia indicar as linhas-mestras, os caminhos, criar a base. Infelizmente, nos outros PALOP a situação não é muito diferente. A cultura está muito associada a apenas uma das suas manifestações, que é a arte. Cultura é comportamento humano; a arte é apenas uma parte desse comportamento, a transfiguração do real que fazemos como artistas. Em países acabados de sair da guerra, como Moçambique, Angola, etc., mesmo esse lado da arte infelizmente é ainda muito incipiente. Mas existem manifestações extremamente interessantes e nesses contextos tão adversos; existem erupções tão fortes como a do vulcão da Islândia. Coisas que arrebentam assim de vez em quando, quer no cinema, quer na dança moderna, quer na pintura…”

“O Estado faz, a nível cultural, o papel de preservação – toma mais conta das coisas que são tradição. A nossa função, como artistas, é desbravar os caminhos novos, que não são muito apoiados pelo Estado. Não há apoio à inovação, à pesquisa, à descoberta de novos caminhos”.

“Na nossa ‘desgraçada’ arte do cinema, temos agora muito recentemente a Escola de Cinema. E foi uma geração que vem do tempo do Samora Machel, numa altura em que o país se propunha ser socialista e essas ideias, quando não havia televisão, e o poder tinha a percepção de que precisava de um veículo para comunicar com as pessoas, e esse veículo seria o cinema. Foi criada uma estrutura muito forte, o Instituto Nacional de Cinema, que tinha uma série de equipamentos antigos e que produzia em película. Foi aí que eu e praticamente toda a geração dos cineastas moçambicanos que hoje têm algum nome, nascemos. E esse é o nosso problema. Só agora estamos a começar com uma geração nova, que trabalha com vídeo e faz algumas experiências novas. Devido à forte aposta do Estado de então, essa geração criou também um importante grupo de técnicos. Temos também a vantagem de estarmos ao lado da África do Sul, que tem também bastante equipamento. Por exemplo, Flora Gomes (Guiné-Bissau) está agora a filmar em Moçambique. Há pouco tempo, 3 cineastas dos PALOP participaram num Festival Pan-Africano da Argélia, intitulado “África visto por”, em que convidaram 12 cineastas, entre eles Flora Gomes, Zézé Gamboa (Angola) e eu. E os 3 filmes foram feitos em Moçambique! Flora Gomes voltou a Moçambique e está agora a filmar com Danny Glover. Licínio Azevedo, brasileiro-moçambicano, já está em Moçambique desde 1975, tem prémios de várias partes do mundo, e está também a filmar ficção em Moçambique… Moçambique tem algum peso neste circuito”.

“Mas não conseguimos ainda encontrar a CPLP! Há passos, há caminhos, várias pessoas têm tentado fazer festivais, etc., e espero que o FESTin possa ser um kick-off para isso. É nestes festivais, nas conversas de café, que se tem de começar a falar destas coisas, das co-produções e dos trabalhos… de facto não há maneira de construir cinema da CPLP se não se construir pela base, com estes projectos em conjunto, estas pontes… estamos a lançar alicerces, vamos ver se os blocos ficam lá e a gente consegue construir as pontes”.
“Procuramos sempre encontrar estéticas e maneiras de tratar o cinema que tenham a ver com a nossa realidade. Os temas recorrentes são os da democracia, da pobreza, do desenvolvimento, etc., mas é preciso trabalhá-los no sentido de conseguirmos fazer um filme e não um panfleto político. Nós trabalhamos com recursos locais, em termos de representação. Muitas vezes temos actores no meio da multidão, em que só eles sabem que estão a ser filmados. E isso também cria uma estética própria, uma visão das coisas. Por causa da capulana e das roupas, temos cores de contraste muito fortes, e uma luz dura, muito forte. Isso significa que há uma variedade, uma permanência de cores e de vivências de cores”.

“Mas o argumento principal é que como nós fomos todos formados na mesma altura e acreditámos, numa forma ou outra, nesse projecto de construir uma sociedade socialista e igualitária, todos nós somos cineastas sociais. O primeiro filme de amor do cinema moçambicano pós-independência foi precisamente um filme de 10 minutos que fiz há 4 anos, para ensaiar “A Janela”. Toda a nossa temática foi sempre uma temática social, que é uma característica política, de mensagem, mas também de estética, que envolve certas abordagens. Portanto, há uma aproximação em relação à nossa ficção, que tem a ver com a maneira como pesquisamos a realidade”.


Breve História de Moçambique
A história de Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi, descreveu uma importante atividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" da "Bilad as Sofala", que incluía grande parte da costa norte e centro do atual Moçambique.

No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a "pré-história" do país (antes da escrita). Provavelmente o evento mais importante dessa pré-história seja a fixação nesta região dos povos bantus que, não só eram agricultores, mas introduziram a metalurgia do ferro, entre os séculos I e IV.

Entre os séculos X e XIX existiram no território que atualmente é Moçambique vários estados bantus, o mais conhecido foi o império dos Mwenemutapas (ou Monomotapa).
A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 — com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim — se transformou numa ocupação militar, com a submissão total dos estados ali existentes, levando, no início do século XX, a uma verdadeira administração colonial.

Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975, na sequência da Revolução dos Cravos, a seguir à qual o governo português assinou com a Frelimo os Acordos de Lusaka. Após a independência, com a denominação de República Popular de Moçambique, foi instituído no país um regime socialista de partido único, cuja base de sustentação política e económica se viria a degradar progressivamente até à abertura feita nos anos de 1986-1987, quando foram assinados acordos com o Banco Mundial e FMI. A abertura do regime foi ditada pela crise económica em que o país se encontrava, pelo desencanto popular com as políticas de cunho socialista e pelas consequências insuportáveis da guerra civil que o país atravessou entre 1976 e 1992.

Na sequência do Acordo Geral de Paz, assinado entre os presidentes de Moçambique e da Renamo, o país assumiu o pluripartidarismo, tendo tido as primeiras eleições com a participação de vários partidos em 1994.

Para além de membro da ONU, da União Africana e da Commonwealth, Moçambique é igualmente membro fundador da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) e, desde 1996, da Organização da Conferência Islâmica. (Para ler texto integral clique aqui)



Descobridor do HIV procura “cura” para SIDA

Maputo, 21 Mar. (AIM) – O prémio Nobel de Medicina, o francês Luc Montagnier, encontra-se em Maputo, capital moçambicana, para apresentar os resultados de uma pesquisa sobre um suplemento alimentar com efeitos “muito positivos” para os doentes de SIDA.
 




Laureado com o Prémio Nobel como reconhecimento à sua descoberta do Vírus de Imunodeficiência Humana (HIV), o professor Montagnier tem estado, nos últimos anos, a investigar o uso de suplementos alimentares benéficos para a prevenção ou combate ao HIV.


O referido trabalho é realizado com a colaboração da “Edge to Edge Global Investiment Limited (E2E)”, uma companhia sul-africana vocacionada á investigação e produção de suplementos alimentares melhorados e, recentemente, desenvolveu um produto com efeitos positivos para os doentes de SIDA.


O cientista francês foi convidado pelo antigo estadista moçambicano, Joaquim Chissano, para falar dos resultados da sua pesquisa durante o segundo encontro do Grupo Livingstone dos Antigos Chefes do Estado e de Governo Africanos, realizado hoje em Maputo. (Para ler texto integral clique aqui)


Fontes: