Dorme Pretinho, videoclipe de uma canção inédita da grande cirandeira e patrimônio vivo Lia de Itamaracá.
Encantamento é a palavra que define a experiência de assistir aos oito minutos deste poético curta-metragem com direção de Lia Letícia. Tive a sensação de estar diante de um mundo e de um ser encantado.
Lia de Itamaracá, sem duvidas é encantada. Sua voz, música, poesia e arte têm o poder de encantar e ensinar aos povos a importância do ato de dar as mãos e de coabitar, compartilhando de uma mesma música, dança e sentimento.
O curta faz um recorte de parte das lembranças e memórias afetivas da infância de Lia com sua mãe e seus irmãos na Ilha de Itamaracá (PE). A mãe de Lia tinha o ofício de marisqueira e era através dele que essa mulher conseguia tirar o sustento para seus filhos e sua família.
Dorme Pretinho consegue, através de uma fotografia sensível e poética, nos transportar para lembranças e memórias de um tempo que não vivemos e ao mesmo tempo faz uma linda homenagem para as Mulheres Marisqueiras que através deste ofício alimentam seus filhos de geração em geração.
Texto: Stephanne Ávila. Revisão: Kátia Barros
Lia de Itamaracá
Maria Madalena Correia do Nascimento, conhecida como Lia de Itamaracá (Itamaracá, 12 de janeiro de 1944), é uma dançarina, compositora e cantora de ciranda brasileira. É considerada a mais célebre cirandeira do Brasil.
Biografia
A artista Lia sempre morou na Ilha de Itamaracá e ainda criança começou a participar de rodas de ciranda.
Trabalhou como merendeira em uma escola pública da ilha.
Ficou conhecida por Lia nos anos 1960, depois que Teca Calazans, incorporando versos cantados pela cirandeira, acrescentou:
"Esta ciranda quem me deu foi Lia,
que mora na Ilha de Itamaracá".
Gravou seu primeiro disco em 1977, intitulado A Rainha da Ciranda.
Em 1998 participou do Abril pro Rock, o que a fez ser famosa nacionalmente.
Gravou Eu sou Lia em 2000, que foi distribuído também na França.
Em 2001, Lia de Itamaracá levou a sua ciranda a Paris, onde lançou o CD “Eu Sou Lia” e onde fez várias apresentações.
Participou do curta-metragem Recife Frio do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho. No filme Lia aparece cantando sua famosa ciranda "Eu Sou Lia, Minha Ciranda e Preta Cira" vestida com roupas de frio na praia de Itamaracá.
Em 2013, participou como personagem principal do curta-metragem documental Formiga Come do Que Carrega, do diretor Tide Gugliano.
Em 2019, participou do filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho. Seu álbum Ciranda Sem Fim foi eleito um dos 25 melhores álbuns brasileiros do segundo semestre de 2019 pela Associação Paulista de Críticos de Arte.
Reconhecimento
Lia de Itamaracá, do Brasil, no festival de música mundial Horizonte 2023, em Koblenz.
Lia de Itamaracá é Patrimônio Vivo de Pernambuco. A titulação é conferida pelo Governo de Pernambuco o objetivo de estimular e proteger iniciativas que contribuem para o desenvolvimento sociocultural e profissional dos mestres e das mestras de notório saber e grupos culturais, tradicionais e populares do Estado de Pernambuco, almejando a transmissão de seus conhecimentos e de suas técnicas. Nos últimos anos, Lia tem participado de festivais e eventos que tratam do repasse de sua sabedoria às novas gerações.
Foi agraciada com a Ordem do Mérito Cultural pelo Ministério da Cultura.
No dia 27 de agosto de 2019, Lia recebeu uma das maiores honrarias de toda sua trajetória artística: o título de Doutora Honoris Causa, pela Universidade Federal de Pernambuco, pelos serviços prestados à cultura de Pernambuco e do Brasil.
Diva da música negra - denominação dada pelo The New York Times.
Em 2003, a cineasta carioca Karen Akerman começou registrar a vida da cirandeira, para um documentário que pretende realizar, sob o mesmo título de CD de Lia.
Em reconhecimento de seu trabalho a promoveu o seu registro como Patrimônio Vivo de Pernambuco. E o Governo Federal, através do Ministério da Cultura, a premiou com a medalha do Mérito Cultural.
Reconhecida como doutora honoris causa pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Em 2020, foi homenageada pelo Bloco Afro Ilú Oba De Min, em seu tradicional cortejo de carnaval.
Minibiografia de Lia Letícia
Lia Letícia pensa seu trabalho a partir de um campo ampliado de arte, na tensão entre práticas artísticas e a sua pretensa autonomia. A construção e conflitos advindos dessa reflexão engendram suas obras. Artista visual, natural de Viamão/RS, muda para Olinda/PE no final da década de 90 e explora a pintura em diversos suportes, inclusive o audiovisual, e investiga as relações entre este e a performance. Além de escrever e dirigir seus próprios filmes, trabalha como diretora de arte. Seus trabalhos transitam entre festivais de cinema e exposições de arte, multiplica esta experiência através de ações como o Cinecão ou como artista educadora em projetos de experimentação audiovisual, como a Escola Engenho. Também colabora como diretora e montadora em trabalhos de artistas visuais, coordena coletivamente projetos da Galeria Maumau e faz parte do CARNI- Coletivo de Arte Negra e Indígena.
FILMOGRAFIA
Meia Dúzia de Maças - Lia Leticia, Paulo do Amparo e Fernando Peres (2002, 8min);
Shhh! - Fernando Peres e Lia Leticia (2004, 4min);
Caminhada contra a ideia de progresso - (2006, 5min);
O Cotidiano do Ovo de Codorna - (2007, 11min);
Netuno NOturno - (2008, 8min);
Orwo Foma - Lia Leticia e Karen Black (2012, 3min);
Encantada - (2013, 11min);
Golpista desde sempre - (2016, 11min);
Terra não Dita, Mar não Visto - (2017, 13min);
Thinya - (2019, 15min);
De Todos os lugares, o mundo - (2020, 5min);
Feliz Navegantes - (2021, 6min);
Dorme Pretinho
Direção e roteiro: Lia Letícia
Ficção, 08 minutos, 2022, PE
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