quinta-feira, 21 de abril de 2011

Curso: Uma historia do cinema na Cinemateca Brasileira

CURSO
UMA HISTÓRIA DO CINEMA NA CINEMATECA BRASILEIRA
26 de abril a 14 de junho de 2011
CURSO LIVRE em parceria com o Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
Aulas às terças-feiras, às 19h00.
As inscrições são GRATUITAS e devem ser feitas pessoalmente na bilheteria da Sala Cinemateca Petrobras a partir do dia 19 de abril, de terça a domingo, das 15h00 às 21h00. Para realizar a inscrição é preciso ter em mãos os seguintes documentos: RG (obrigatório), CPF, passaporte, Título de Eleitor e Documento Militar. São 100 vagas disponíveis, preenchidas de acordo com a ordem de inscrição.
O novo módulo é dedicado ao cinema brasileiro e, pela primeira vez, as aulas serão ministradas por diversos professores da ECA/USP – Carlos Augusto Calil, Eduardo Morettin, Cristian Borges, Henri Gervaiseau, Rosana Soares e Esther Hamburger, sob a coordenação de Rubens Machado Jr. – aos quais coube também a seleção de filmes para o curso.
RUBENS MACHADO JR., coordenador do curso, é Livre Docente em Teoria e História do Cinema na ECA-USP. Como pesquisador, estagiou na Universidade de Paris III (1991-1997) e fez Pós-Doutorado no IA-Unicamp (1998-1999). Integra a editoria de várias revistas, como Cine-Olho (RJ-SP, 1975-1980), Infos Brésil (Paris, 1992-2007), Praga (SP, 1997-2000), Sinopse (SP, 1999-2006) e Significação (SP, 2006-). Publicou artigos em periódicos brasileiros como Novos Estudos Cebrap, Alceu, Cinemais, Educação & Sociedade, Pós – FAU-USP, Trópico, Folha de S. Paulo (Mais!, Ilustrada, Jornal de Resenhas e Folhetim); na Itália, Oèdipus e Close-Up: Storie della visione; na França, Cahiers du cinéma, Episodic e L'Armateur. É vice-presidente do Conselho de Orientação Artística do MIS-SP. Atualmente pesquisa a história do cinema experimental e de vanguarda.
Módulo 27
CLÁSSICO, ANTICLÁSSICO E QUASE CLÁSSICO: ASPIRAÇÕES, INVENÇÕES E TRADIÇÕES DO CINEMA BRASILEIRO
“Na universalidade tão admirada das obras clássicas
perpetua-se a universalidade funesta dos mitos,
a inflexibilidade do sortilégio, como norma e configuração.”
T. W. Adorno, Teoria estética
Num país jovial e meio barroco como o nosso, o termo clássico vive nos dando cócegas. No entanto, acaba nos atraindo a necessária positividade que ele nos promete. Iremos precisar dessa positividade para ordenar, fazer progredir, e afinal apreciar a nossa (nem sempre) precária realidade. Não nos esqueceremos de procurar o que na bandeira nacional se propõe (e continuaria faltando), ou seja: Como chegar à Ordem e ao Progresso? Que significado podem ter? Mais ainda: Como usufruir, o que fazer do que já conquistamos?
O cinema brasileiro não escapa dessa realidade maior e dependerá também dos olhares contemporâneos que pretendem sempre reordená-lo na história. A sorte dos filmes nacionais considerados clássicos vive assediada por essa “providencial” instabilidade. Sintoma disso é a impressão de que este ou aquele clássico mais tradicional o seria de fato mais por convenção do que por convicção.
Alguém lembrará a boutade abrupta de Nelson Rodrigues, “Toda unanimidade é burra”. Vamos combinar que estamos de acordo se o unânime em questão apoiar-se apenas no chamado senso comum. Este último deve ser atacado continuamente pelo exame atencioso dos processos de legitimação e dos critérios críticos exercitados; o que não é fácil. A nenhum filme brasileiro falta o vestígio da afirmação, na medida em que qualquer um, por sua simples existência, sobrepuja o isolamento e a miséria do status quo mais encontradiço. E se há realização classicista em terreno meio arcaico, é certo que pesou o gesto ancestral de afirmação sobre a Natureza, que a atração circense tão bem materializava, muito antes do cinema. As ideias vão mudando e os modos de pesquisar, muitos momentos relegados ou ignorados vão aflorar. Muito se pode interrogar hoje em dia das velhas obras cinematográficas em virtude de novas concepções de mundo deflagradas. Os verdadeiros clássicos vão resistindo ao tempo, e mesmo se renovando, arriscando ampliar o seu espectro de sentidos. A especulação de cada novo momento é necessária para testar os critérios assentados e tradicionais. As exigências práticas do presente repõem com novos moldes uma educação dos sentidos refeita, que nos faz ver com novos olhos, percepção diferenciada.
Por um lado já se tornaram senso comum, mesmo para quem não gosta de enxergar o filme brasileiro pelo ângulo do autor, nomes como Nelson, Glauber, Joaquim Pedro, Leon, Anselmo, Cacá... Ou sobrenomes como Medina, Mauro, Peixoto, Manga, Khouri, Person, Candeias, Saraceni, Sganzerla, Bressane, Babenco, Mojica... De outro lado há os filmes. Fora de sua singular análise crítica resta, e floresce, a mitologia do cinema; assim como na historiografia dos grandes criadores acabaria imperando o relato martirológico. Do modo como se dá o consenso nestes casos de pura reverberação da indústria cultural, convém destacar o fato de que para além do chamado cinema clássico e de todo o classicismo aparentado à história da arte, tudo pode virar “clássico”. Onde a indústria não consegue erigir seus modelos de comercialização mediante a interação sistemática do consumo, como falar de cinema clássico, senão como mimese estilística trazida dos maiores centros fabricadores? Entre o conceito mais exigente e a vulgarização indiscriminada ou prepotente surge a crítica tentando mediar o assunto.
Claro que este não é um problema exclusivo do Brasil, ou da periferia. Mas a diferença existe – e persiste na história, tem estado aí para fazer contraponto, negar, glosar ou contrastar com as mais fortes potências emissoras. Em toda parte o clássico tem convivido com o pseudoclássico, o quase clássico e o anticlássico. Como já disse G. C. Argan, tentando dar conta da eclosão maneirista na história da arte, o termo anticlássico, naquilo que parece designar, paradoxalmente, torna mais claro num átimo aquilo que sugere configurar, e mais denso de conteúdos que o seu contrário. Glauber Rocha teria intuído o problema não só ao escrever a Estética da Fome como ao chamar a cultura estadunidense de “neoclássica”; isto, claro, sem falar da sua simpatia pelo barroco.
Cada diferente prática do cinema, se bem desenvolvida, vai sugerir a sua própria configuração clássica. Porém, falar em clássicos de cada gênero cinematográfico de narrativa só é coisa cristalina e claramente autorizada quando a indústria os institui. E o caráter intermitente ou precário da indústria do cinema no Brasil arremessou a possibilidade de qualquer tipo de clássico para epicentros distintos dos cânones de gênero convencionais do cinema. Nestes termos, a atual vaga tecnológica de amadorismo fértil e promissor não é exatamente uma novidade desde que se começou a filmar por aqui. Estudiosos do país, como Paulo Prado ou Mário Pedrosa, voltaram a apontar uma renitente inclinação romântica que nos custa muito endireitar. Seguindo o vaticínio de Paul Valéry, de que toda a obra romântica já é clássica apenas mediante o seu êxito, resta-nos compreender o que de melhor aqui se construiu. Sucessos de crítica ou de público, êxitos frustrados por desvendar, êxitos do futuro, ainda incompreendidos?
Rubens Machado Jr.
Largo Senador Raul Cardoso, 207
próximo ao Metrô Vila Mariana
Outras informações: (11) 3512-6111 (ramal 215)
ENTRADA FRANCA
Clique aqui e confira a programação, sinopse dos filmes e bibliografia do curso

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